terça-feira, 13 de julho de 2010

Comentando o Mundial de Beach Handball - Turquia 2010 (3)

Como prometi, hoje analisarei a competição feminina desse mundial, aproveitando para abordar a jovem equipe do Brasil.

Há anos que falo a mesma coisa: são poucas as equipes que chegam ao mundial com um nível de treinamento aceitável. Os países treinam pouco e esperam que na competição a equipe se acerte e venha apresentar jogo compatível com o nome que carrega junto à IHF. Essa medida tem se apresentado como equivocada, pois raramente conseguem sair do evento com o resultado esperado.

No feminino, essa distorção é mais perceptível, pois uma mulher destreinada jogando na areia fica muito mais evidente que um homem destreinado. Essa afirmação, longe de ser preconceituosa, é baseada em observação, pois fica mais claro o acúmulo de gordura, a diminuição da força física, gerando um jogo lento com giros complicados, poucas aéreas e muitos gols de um.

Nesse quadro, o Brasil se destaca por treinar muito e ser uma equipe leve com meninas super preparadas fisicamente. Nosso país repetiu o resultado do Mundial da Espanha em 2008. O terceiro lugar veio coroar a atitude corajosa de renovação da comissão técnica feminina, liderada pela professora Rossana Coeli. Não é fácil substituir uma técnica vencedora como a professora Claudia Monteiro, que deixou a equipe com inúmeros títulos, e manter a posição conquistada dois anos antes, porém, com uma equipe ainda muito jovem na média.

Ficamos tristes por um tempo, pois pela segunda vez o Brasil era tido como “pule de dez” ao título e acabou na terceira posição. Então fica a pergunta: o que aconteceu com o Brasil? No mundial da Espanha em 2008, o Brasil perdeu na semifinal para a Espanha, donas da casa, numa arbitragem questionada por quem assistiu ao jogo. Agora, o Brasil perdeu na semifinal para Dinamarca numa situação surreal, típica do Beach Handball. Perde um tempo apertado, ganha outro de 18 x 4 e perde num shoot out complicado.

Terceiro lugar é topo de modalidade. Penso que estamos no caminho certo. Precisamos de mais jogadoras de Handebol de Areia. Precisamos de mais equipes femininas no circuito nacional. Precisamos nos manter em treinamento constante.

Parabéns ao grupo atual, ao grupo passado e a todas as meninas e profissionais que fizeram o Handebol de Areia feminino do Brasil estar entre os melhores do mundo.

Próxima postagem: Competição masculina e o Brasil

domingo, 11 de julho de 2010

Comentando o Mundial de Beach Handball - Turquia 2010 (2)

Hoje vou abordar a arbitragem, que sempre é um segmento complicado.

Matéria do Jornal Oglobo, durante essa semana, analisou a arbitragem da Copa do Mundo de Futebol. Apontava a fraqueza de uns e o fato de alguns terem ido à competição e não terem trabalhado. Mas o que mais me chamou a atenção foi a citação de que alguns árbitros seriam indicações políticas. Sem querer comparar situações tão distintas, pensei no IV Mundial Handebol de Areia e seus árbitros.

Imaginemos o grupo que gere a modalidade na IHF escolhendo os árbitros. Estão dentro da idade? Têm experiência? Quem está apitando? Como está (fisicamente) a dupla? Os profissionais podem atuar naquele período? De que país é a dupla? E o continente? São inúmeras situações que tornam árduo o trabalho de quem dirige. Não deve ser fácil.

Entre os problemas aponto o longo período entre competições mundiais e continentais como um fator importantíssimo para nossas dificuldades. Juntemos com a aparente falta de articulação entre IHF e EHF, que tem o campeonato continental mais importante do calendário mundial. Assistir a um jogo europeu me leva a pensar em outra modalidade, pela interpretação das regras e tolerância nos contatos. É lógico que árbitros, atletas e dirigentes levam essas experiências para competições dirigidas pela IHF. Isso causa desconforto e reclamações infindáveis.

No quadro de arbitragem das competições principais, temos árbitros que aparentam pouca experiência com a modalidade. Outros indicam estar apitando a primeira competição do ano. É fácil perceber pela forma como conduzem os jogos no início da competição, e como estão ao final. Como explicar tamanha distorção num campeonato mundial? Ainda mais no novo modelo de competição, onde cada jogo vale muito.

Entre as que estiveram no mundial gosto da dupla do Egito e dos Emirados Árabes. São experientes e corajosos. Também gosto das duplas femininas da Polônia e Sérvia. São firmes e provam que o fato de serem mulheres não melhora e nem piora nada. Vi os uruguaios apitando muito bem uma semifinal, apesar da inexperiência. Os brasileiros Sílvio e Luis dispensam comentários. A dupla da Turquia não apitaria série A do Rio de Janeiro. Dupla fraquíssima e de comportamento estranho. E temos a dupla da Noruega... Começaram apitando três jogos nossos. Gostamos. Eram firmes e tinham boa interpretação das regras. Veio o jogo contra a Rússia e foi aquela catástrofe no shoot out http://www.youtube.com/watch?v=QvZe5NHgARA. Todos viram e não cabe protelar o assunto. Vem à semifinal e são novamente escalados (!!!???!!!!). Uma dupla que acaba de ter um problema grave num jogo, apita outro daquela equipe, sendo que essa equipe provou seus erros? E como agravante, apitando o 5º jogo numa competição de dez jogos por equipe? É normal? É salutar? Para mim, erro primário de organização desportiva. Estranhei a ausência da dupla espanhola, que apitou os Worlds Games em 2009. Era uma dupla excelente e articulada, vinda de um país onde a modalidade é jogada com frequência.

Para nós, as indicações políticas podem ser traduzidas pela necessidade de estendermos a modalidade para todos os continentes e regiões do mundo. Não nos resta dúvida de que a arbitragem é fator de desenvolvimento do desporto e precisamos democratizar o conhecimento. Porém, não podemos abusar nos riscos. Precisamos dos melhores nas competições mais importantes. Mais investimentos em encontros e treinamentos.

Próxima postagem: Competição feminina e o Brasil

sábado, 10 de julho de 2010

Comentando o Mundial de Beach Handball - Turquia 2010 (1)

Receptividade boa e hotel excelente. Alimentação muito boa. Complexo dos jogos muito bom, com boa arena central. Areia pesada e escura. O transporte funcionou sem luxo. O ponto fraco foi o acesso a internet nos dois primeiros dias, depois melhorou muito. Os jogos da arena central foram transmitidos pela Eurosport 2, com alguns jogos podendo ser vistos pela internet.

No congresso técnico o vice-presidente da IHF, Sr. Miguel Roca, deu três avisos: que o próximo mundial será na Itália, em 2012; que teremos Beach Handball nos Worlds Games da Colômbia, 2013; e confirmou competição mundial, dirigida pelo Comitê Olímpico Internacional, em 2014. Esse evento contará com todas as modalidades de areia e mar. Essa notícia foi a melhor dos últimos anos, e consolida o Beach Handball como desporto candidato a maiores aspirações.

Estamos avançando. Essa é a impressão generalizada entre os participantes do mundial. Faltam muitas coisas, principalmente entre os participantes. Precisamos de mais países envolvidos com a modalidade. Mais equipes treinadas e levando o desporto a sério. É notória a força de vontade e envolvimento do grupo que toca a modalidade dentro da IHF. Porém, eles não são nada mais do que a representação dos países dentro da IHF. Se formos fortes e interessados que o Beach Handball cresça, eles serão fortes na mesma proporção.

Próxima postagem: arbitragem.

sábado, 3 de julho de 2010

Agradecimentos aos Amigos

Nessa hora de bons resultados e apoio de muitos, gostaria de agradecer as palavras de incentivo dos parentes e amigos visitantes do blog.

Ao longo dos anos construímos uma forma de jogar e de se relacionar na seleção. Essa construção vem de longa data e é fruto da opinião de inúmeros atletas que passaram pela seleção brasileira. Cada um que aqui passou trouxe uma experiência. Uma maneira de conviver. O ambiente de trabalho intenso mistura-se com o prazer de estar junto. Entremeados aos treinamentos diários sempre brincamos com muitas situações do dia a dia. Ninguém escapa ou está imune. Isso, certamente facilita a convivência e abranda o longo período longe da família e outros afazeres. Acredito que somado a alta técnica dos atletas, o apoio institucional e o trabalho multiprofissional, o clima entre todos nos favorece na hora da “festa”.

Portanto, esse é sempre o melhor momento para salientar a importância dos que iniciaram a modalidade no Brasil. Certamente, sem esses nada seria possível. Estejam certos que os atuais jogadores da seleção têm imenso respeito por todos, pois sempre que posso reforço essa participação anterior. (1995) Manoel Luiz de Oliveira, Carlos Arthur Nuzman, Leoni Nascimento, Willian Felippe, Stanley Mackenzie, Homero Ribeiro, Arline Ribeiro, Humberto Munck, Tico, Geraldo, Anderson Alarcão, Renato Ferreira, Hulck, Ronald, Baiano, Flávio Cassilatti, Everaldo, Marcos Pignone, Palito e Bruno Souza. (1996) João Montenegro e Macarrão. (1998) Alberto Caldas, Ednaldo, Emerson Gessing, Billy, Fábio Dias e Ernesto. (1999) Tio Roy, Drean e Luiz Filipe. (2001) Ricardo, Alemão, Cachorrão e Gilberto. (2004) David, Pré e Jaccidey. (2005) China, Folhas e Arlindo. (2006) Djandro, Emanuel, Edu, Xykinho e Paulinho Martins.

Espero que esse trabalho perdure por longos anos com outros atletas, profissionais e dirigentes. Que todo atleta que treina incansavelmente, possa ao final dizer que se dedicou, lutou e se divertiu ao máximo. Depois, se o resultado não for o esperado, que fique a certeza do dever cumprido e a esperança de ter feito amigos.

Um forte abraço!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Texto do Atleta Gil Vicente Bicampeão Mundial de Handebol de Areia

Neste domingo passado, dia 27/06/2010, o Brasil se tornou o único bicampeão mundial de beach-handball! Num novo estilo de competição, bem mais exigente, onde a equipe não pode abrir mão de nenhum jogo, a equipe brasileira foi cirúrgica e incisiva em sua escalada ao topo do mundo, mais uma vez.

Perdendo apenas um jogo (Rússia 2x1) e nem mais um set sequer, mostrou ao mundo do handebol, quem manda nesta modalidade, com jogadores espetaculares, e um grupo que se completa de tal forma que definitivamente ficaria muito difícil de alguma outra seleção "roubar" este titulo dos canarinhos!

Após um trabalho árduo de treinamentos na cidade de Mongaguá, debaixo de chuva, sol, vento, frio e calor, esses atletas de ouro não poderiam sair da Turquia com outro resultado. Grupo unido, uniforme, encaixados da forma que seu mentor imaginava, doutrinados, obedientes taticamente e com poderio técnico afiado. Foram passando por cada adversário com maestria, muita alegria e união. Vivenciar este grupo, pra mim, foi algo extraordinário, cada um com sua particularidade, dando sua real contribuição para a conquista do título nas praias turcas de Antalya.

Bruno, mais uma vez melhor do Mundo, dispensa qualquer tipo de comentário, mas guiou o time no ataque, com seus passes milimetricamente calculados e entradas rápidas nas defesas gigantes adversárias. Jefte, o canhoto, de jogo simples, porém eficiente, um petardo na mão esquerda, superação seria seu sobrenome. Balda, sem duplo sentido, o leão brasileiro, guerreiro, eficiente, dedicado, experiente. O mais cirúrgico de todos. Cyrillo, sem sombra de duvidas, mostrou para o mundo como se marcar, numa modalidade voltada pro ataque, comandar uma defesa que toma apenas sete gols num set de uma final, já fala por si só! Gulliver, o marreta, surpreendeu a todos, defendendo como um paredão, e quando solicitado no ataque levou toda sua força em saltos incríveis e finalizações variadas. Jarison esteve pronto, como sempre, para os momentos mais difíceis, se impôs e mostrou que está mais que está pronto pra ser o dono da lateral esquerda. Pezão, muito solicitado defensivamente, treinado, soube o que fazer na hora exata, no ataque com giros rápidos mostrou maturidade e abraçou definitivamente a oportunidade. O que falar dos nossos goleiros? Coxinha, simplesmente sensacional, com defesas impares e importantíssimas. Elevou o humor da seleção com seu jeito alegre e divertido. E o Júnior? O único calouro da seleção. Imaturo? Sem experiência? Nada disso! Chegando às areias turcas, mostrou do que é capaz: fez da falta de experiência sua arma, e tapou o gol brasileiro com muita garra, emoção e disposição. Levou a medalha de ouro pro seu filho, Jadson Neto, recém nascido. Nosso goleiro abriu mão de estar presente no parto do seu primogênito, para ir à busca de um sonho, e levou na bagagem uma motivação que nenhum de nós imaginava! Guerra, nosso cérebro, conhece esse jogo como nenhuma pessoa no mundo, conhece seus atletas na palma da mão, sabe como cada um reage, o que cada um de nós precisava ouvir em determinados momentos, nos dando a liberdade de contestar, mas impondo o respeito necessário. Mais que um técnico, mais que um pastor, mais que um amigo. Marcinho, apesar de ter vindo com idéias fixas de como seria seu trabalho, foi aprendendo com o grupo a ser exatamente o que precisava ser se moldando e sendo maleável em suas decisões e por fim, se tornou um de nós, contribuindo com sua parcela para a obtenção desse titulo. Dra. Juliana Cubo, nossa Jujú, com suas mãos fortes, e sua dedicação integral, nos deixou aptos para fazermos o que deveríamos. Mágica? Não! Competência é o nome disso! Stanley, sempre presente, em busca do que for melhor pra seleção, trata todos como filhos, e sente prazer em fazer o que for preciso para que só tenhamos o trabalho de entrar em quadra e fazer o que fizemos.

Sem esquecer-me dos que dessa vez não puderam estar lá, mas que têm sua importância para o grupo!

Se eu tivesse que escolher uma palavra para definir este grupo, escolheria ORGULHO, pois este é o sentimento que fica em meu coração ao lembrar-me de todos os que fizeram parte desta história. Só quero dizer uma coisa a cada um deles: OBRIGADO!