terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dicas do Guerra III

1. A formação das equipes de Beach Handball tem acontecido através da reunião de amigos ou colegas de clubes de Handebol. Alguns já aposentados. Outros momentaneamente parados e outros atuando em campeonatos estaduais sem muita expressão. Como já referido anteriormente, tudo passa pelo caráter recreativo e praieiro. Acontece que num dado instante essas equipes resolvem pensar no desporto de competição. Nasce daí uma grande dúvida: como associar amigos com o desejo de vitória nas competições estaduais e nacionais? Sabemos que o resultado (1º a 3º) em competição nacional dá direito ao atleta de pleitear a “bolsa atleta” do governo federal. Alguns Estados têm as mesmas bolsas, com valores até superiores. Desta forma, muita gente fica no dilema entre os amigos e os jogadores que fazem diferença. Nesse caso recomendo que as equipes treinem. Pois o jogador comum treinado, pode ser mais útil que aquele que faz diferença sem treinamento. Gostaria de citar como exemplo o HCP da Paraíba feminino. Bi-Campeões do Brasil, essa equipe não tem nenhuma atleta na seleção brasileira da modalidade. Entretanto, sua força está na capacidade do técnico Rômulo Batista, união e treinamento.

2. Outro aspecto bastante relevante na formação de uma equipe é a “vaidade”. No meu entendimento, nada pode ser tão devastador para uma equipe de Beach Handball como a pessoa “vaidosa”, que joga pensando exclusivamente em si. Não é a vaidade de estar esteticamente bonito ou com um belo uniforme. Mas a “vaidade” nascida da necessidade de aparecer para todos como um goleador ou o melhor em qualquer coisa. Nas competições onde se premia, essa deformação fica mais exacerbada. A disputa passa a ser dupla: uma luta pela vitória e outra pelo prêmio. Por ser um desporto onde os atacantes jogam em superioridade, existe a facilidade de consignar gols. Entretanto, é necessário que muitos façam gols, sob pena de chegar o dia ou o jogo, em que o “vaidoso” não esteja numa boa hora e a equipe venha a perder. Tenho acompanhado inúmeras situações dessa natureza e afirmo sem piedade, um ótimo jogador “vaidoso” não joga comigo.

3. Ao longo da minha trajetória profissional sempre fui “colérico” com árbitros e atletas. Já ganhei e perdi muito com isso. Mas hoje considero uma distorção que teve origem na minha formação e na falta de estrutura de toda ordem das equipes que dirigi. Um jovem técnico que tem que pensar em pagamento de arbitragem, atletas impontuais, impossibilidade de treinar, transporte, violência, responsabilidade com filhos dos outros, uniformes, carteirinhas, federação e quem vai apitar... não pode ter a cabeça no lugar para exercer bem a função. Quando por dois anos dirigi uma equipe profissional não fui desqualificado uma vez. Melhorei com o tempo, mas quem tem esse problema é como o alcoólatra: não se cura, controla. Hoje me sinto à vontade para abordar esse assunto. Considero que na areia, técnicos com essa característica tendem a ser muito prejudiciais para suas equipes. Os atletas têm o sol na cabeça, areia no corpo, vento atrapalhando, superioridade como risco e inferioridade para resolver. Imagina um técnico gritando por qualquer motivo no seu ouvido. O mais preocupante é que esses técnicos normalmente trabalham com equipes de jovens. Esses atletas tendem a ter sua criatividade inibida, exatamente num jogo onde a criatividade é absolutamente primordial.

Reflitamos!!!!

7 comentários:

Rio Handbeach disse...

Vamos por partes nos comentários, post muito grande, exige um comentário um pouco mais aprofundado.


1 - Acredito que a equipe tenha de ter o seu perfil muito bem definido, quando se trata de amigos x jogadores. Há espaço para a prática participativa e para a prática competitiva, mas não num mesmo momento e nem numa mesma equipe. Falo com propriedade porque vivi e vivo isso diariamente.

Um outro aspecto com o qual convivemos no beach é que muitas equipes se formam por esses amigos e não agregam um treinador, o que faz com que a falta da "voz de comendo" gere inúmeros problemas nas quadras.


2 - Quanto a essa "raça" de jogador, não há nada a acrescentar. Em um jogo em que o passe é tão importante quanto a finalização, em que a tomada de decisão quanto a superioridade/inferioridade é fundamental, não há espaço para estrelinhas.


3 - Arbitragem é uma coisa que já me tirou muito do sério também. Principalmente no começo, quando passei por tudo isso que você citou e ainda sem remuneração alguma. Pensando friamente era "loucura", mas...

Na hora da partida, o que vale é o que o árbitro decidiu naquela hora. Vale lembrar que é uma pessoa que também está sob pressão e que muitas vezes é mal preparado, mal orientado, mal supervisionado etc. Aprendi que o melhor a se fazer é deixá-los trabalhar e que, se for o caso, depois da partida a gente pensa em tomar alguma atitude.




Por enquanto é só.
Grande abraço
Marcinho - Rio Handbeach/Icaraí Handbeach

Z5 Handebol de Areia disse...

Excelente tópico Professor Guerra. Como é bom ler matérias de pessoas que realmente entende do assunto. Espero que as pessoas envolvidas com o handebol de areia acompanhe o seu blog, pois nos dá muita lição. Feliz Natal e um 2009 de muito handebol de areia.

Anônimo disse...

Caro Professor Guerra,
As dicas colocadas nesse momento me fizeram refletir sobre a "cara" do Handebol de Areia no Brasil e a minha pratica enquanto técnico da modalidade...
Sem dúvida, o treinamento com propósitos bem definidos cria a condição de se formar uma EQUIPE que faz diferença, como é o caso do HCP. Acredito que estamos caminhando pra esse perfil de equipes no Brasil e, naturalmente, o JOGADOR que faz diferença (sem treinar) vai desaparecer das principais competições. Entretanto, o esforço das instituições e profissionais do Handebol de Areia devem colaborar e muito com isso. Um grande passo foi o impedimento da convocação pra Seleções Brasileiras de atletas que nao participarem do Campeonato Brasileiro.
Quanto ao comportamento do técnico em relação a arbitragem e a própria equipe, penso que apesar de inúmeros fatores levarem um técnico a "perder a cabeça", não há justificativa pra tais comportamentos. Como você disse e o Marcinho comentou, esses momentos de "cólera" parecem ser fruto da pouca experiência e imaturidade. Tomemos cuidado com isso!!! De qualquer forma, o Handebol de Areia cria um ambiente muito mais propício ao surgimento de condutas positivas do que negativas, como a própria filosofia da modalidade prega...
Que em 2009 novas REFLEXÕES e AÇÕES nos ajude a melhorar a qualidade Handebol de Areia.

Alexandre Almeida

Pedro Henrique disse...

Gostaria de opinar nesse tópico tão importante.
Queremos (e devemos querer) fazer desse esporte que amamos uma coisa grande, bonita e principalmente profissional, porém sempre esbarramos em dificuldades. Dificuldades das mais variadas: falta de dinheiro, de apoio, de incentivo, etc.
Tenho percebido que uma dificuldade que invariavelmente tem sido colocada é o árbitro. Que ele é mal preparado, etc, etc.
Falarei por mim, e tenho certeza que alguns outros no país vivem uma história parecida.
Para ser um bom árbitro é necessário ser bom em várias coisas e ter características pessoais que valorizem a postura necessária para ser um verdadeiro "juiz", e há de se convir que unir coisas inerentes ao ser humano (próprias de cada um) com outras que precisam ser treinadas e/ou estudadas (parte teórica, física e prática) não é tão simples assim.
Contudo percebo que os árbitros estão buscando cada dia mais esse aperfeiçoamento, principalmente aqueles que se especializam (ou pelo menos tentam) no handebol de areia.
Vale salientar também que muitos de nós ajudamos para que a coisa caminhe...quase sempre, montamos e desmontamos a arena quando os atletas ainda nem chegaram ou já foram embora...que a remuneração nem sempre é justa (sem contar as vezes que abrimos mão de receber as taxas, ou valores de transporte, por exemplo, para participar da etapa).
Se quereremos ser grandes é necessário que seja dado ao árbitro condições para tal...que o tratamento a nós dispensado seja igual (pelo menos) ao que é dado aos árbitros do indoor.


Não é crítica a ninguém...só um desabafo de um árbitro apaixonado pelo Handebol de Areia e orgulhoso de ser brasileiro.
Saudações.

Guerra-Peixe disse...

Rapaziada,
No lugar de comentar aqui, como a arbitragem foi tema, escrevi um novo post.
Obrigado pelos comentários e forte abraço.

Anônimo disse...

Prof. Guerra,

Parabens pelo sucesso do blog!

Tire uma duvida... Está realmente "liberada" a bolsa atleta para o Campeonato Brasileiro de Beach? Pois nos anos anteriores, a competição não estava inscrita no projeto Bolsa Atleta, inviabilizando a liberação da bolsa.
Um abraço,
Daniel Kreuger - UNISUAM

Guerra-Peixe disse...

Kreuguer,
A bolsa está liberada, pois esse ano a CBHb colocou o evento entre as competições que "valem". Acredito que nos anos anteriores tenha havido um cochilo da instituição. Talvez essa "dormida" tenha a ver com os caras que insistem em tentar fazer a modalidade algo chinfrim. O cara não leva a sério. Bebe durante os jogos. Não se prepara. Briga com árbitros e por aí a fora. Ainda lutamos com as pessoas que colocam a modalidade para baixo por medo ou por não conseguir um lugar de destaque.
Mas vamos em frente!