Nesse final de semana, numa
competição de Beach Handball em Berfort Roxo, houve premiação para melhor
técnico. Venceu o técnico do IEMAR Anderson Andinho. Fiquei duplamente feliz.
Primeiro por ser um batalhador da modalidade e depois pela
lembrança do profissional TÉCNICO. Em que pese à subjetividade do que é ser melhor numa
função, devemos todos nos sentir premiados. Afinal de contas, a premiação de
melhor jogador ou pivô carrega a mesma subjetividade e nunca deixou de existir.
Aproveito esse evento para
abordar um assunto que muito me incomoda: “Qual o real
valor e lugar do técnico desportivo no desporto brasileiro”?
Tenho percebido que muitos
técnicos desportivos, após um longo trabalho e investimento na carreira, acabam
por sucumbir ao excessivo desleixo de quem deveria zelar por esse profissional (em todas as instâncias) e acabam em casa com a família, pois assim ganham muito mais (perdem menos).
Peguemos como exemplo o handebol.
Quantos técnicos profissionais têm o país? Dos poucos existentes, quais que
perdendo o emprego seriam convidados por outra equipe? Teríamos alguns? Dos sem
emprego temos exemplos aos montes. Ex-técnicos de seleções brasileiras ou não,
profissionais gabaritados que perderam espaço após o fechamento de suas
equipes/projetos. Outros foram para casa e simplesmente falaram NÃO QUERO MAIS,
CHEGA! Dos que ainda resistem sem nada ganhar, podemos concluir o que não é
segredo para ninguém: profissionais de handebol são sustentados por
vínculos com escolas e vão se mantendo no desporto/clube movidos apenas por
paixão.
Em outra oportunidade havia
escrito sobre o número excessivo de “técnicos” de várias modalidades, pouco
instrumentalizados, sem nenhum curso e totalmente despreparados para a função.
Na universidade me deparava com jovens que “formavam” inúmeras crianças em
clubes e em vários desportos. O que sustentava essa situação? Baixos salários
ou a inexistência deles, paixão desses por modalidades, abnegação e aquele
pensamento de que “Eu vou fazer diferente”. Na verdade, esses serão aqueles que
deixarão os desportos quando estiverem super instrumentalizados, mas sem
nenhuma esperança de transformar a situação que se apresenta.
O que está por trás de toda essa
distorção? No meu entendimento, falta política desportiva que valorize o profissional.
Para atletas temos o Bolsa Atleta (Federal e em muitos estados) Para técnicos
sobram bolsas de uniformes para lavar em casa. Para muitos atletas existem
pagamentos, enquanto para técnicos resta a mão no bolso para ajudar um e outro.
Ao final de tudo isso, somos obrigados a assistir a premiação de melhor isso e
melhor aquilo. Aos técnicos sobra o reconhecimento de poucos, críticas de que
deveriam fazer assim ou assado, se comportar melhor e etc... Para culminar,
muitas das competições internacionais estão abolindo a medalha para técnico e
comissão. Fico pensando: qual o verdadeiro lugar de nós técnicos nessa longa
história? Será que atrapalhamos alguma coisa? Será que pela paixão seremos
obrigados a nunca auferir nada?
Muita gente escreve que o Brasil
precisa oferecer curso para os seus técnicos. Eu diria que precisamos de
conhecimento sim, mas precisamos muito mais de estrutura para trabalhar.
Precisamos de recursos para levar o leite e pão para casa. Chega de mão no
bolso, copo d’água e mariola.
Respeitem o profissional
Tomei a liberdade de pegar uma foto do Professor Paulo Célio, que ilustra bem o sentido do texto.