segunda-feira, 29 de abril de 2013

Técnico no Sistema Desportivo Brasileiro


Nesse final de semana, numa competição de Beach Handball em Berfort Roxo, houve premiação para melhor técnico. Venceu o técnico do IEMAR Anderson Andinho. Fiquei duplamente feliz. Primeiro por ser um batalhador da modalidade e depois pela lembrança do profissional TÉCNICO. Em que pese à subjetividade do que é ser melhor numa função, devemos todos nos sentir premiados. Afinal de contas, a premiação de melhor jogador ou pivô carrega a mesma subjetividade e nunca deixou de existir.

Aproveito esse evento para abordar um assunto que muito me incomoda: “Qual o real valor e lugar do técnico desportivo no desporto brasileiro”?

Tenho percebido que muitos técnicos desportivos, após um longo trabalho e investimento na carreira, acabam por sucumbir ao excessivo desleixo de quem deveria zelar por esse profissional (em todas as instâncias) e acabam em casa com a família, pois assim ganham muito mais (perdem menos).

Peguemos como exemplo o handebol. Quantos técnicos profissionais têm o país? Dos poucos existentes, quais que perdendo o emprego seriam convidados por outra equipe? Teríamos alguns? Dos sem emprego temos exemplos aos montes. Ex-técnicos de seleções brasileiras ou não, profissionais gabaritados que perderam espaço após o fechamento de suas equipes/projetos. Outros foram para casa e simplesmente falaram NÃO QUERO MAIS, CHEGA! Dos que ainda resistem sem nada ganhar, podemos concluir o que não é segredo para ninguém: profissionais de handebol são sustentados por vínculos com escolas e vão se mantendo no desporto/clube movidos apenas por paixão.

Em outra oportunidade havia escrito sobre o número excessivo de “técnicos” de várias modalidades, pouco instrumentalizados, sem nenhum curso e totalmente despreparados para a função. Na universidade me deparava com jovens que “formavam” inúmeras crianças em clubes e em vários desportos. O que sustentava essa situação? Baixos salários ou a inexistência deles, paixão desses por modalidades, abnegação e aquele pensamento de que “Eu vou fazer diferente”. Na verdade, esses serão aqueles que deixarão os desportos quando estiverem super instrumentalizados, mas sem nenhuma esperança de transformar a situação que se apresenta.

O que está por trás de toda essa distorção? No meu entendimento, falta política desportiva que valorize o profissional. Para atletas temos o Bolsa Atleta (Federal e em muitos estados) Para técnicos sobram bolsas de uniformes para lavar em casa. Para muitos atletas existem pagamentos, enquanto para técnicos resta a mão no bolso para ajudar um e outro. Ao final de tudo isso, somos obrigados a assistir a premiação de melhor isso e melhor aquilo. Aos técnicos sobra o reconhecimento de poucos, críticas de que deveriam fazer assim ou assado, se comportar melhor e etc... Para culminar, muitas das competições internacionais estão abolindo a medalha para técnico e comissão. Fico pensando: qual o verdadeiro lugar de nós técnicos nessa longa história? Será que atrapalhamos alguma coisa? Será que pela paixão seremos obrigados a nunca auferir nada?

Muita gente escreve que o Brasil precisa oferecer curso para os seus técnicos. Eu diria que precisamos de conhecimento sim, mas precisamos muito mais de estrutura para trabalhar. Precisamos de recursos para levar o leite e pão para casa. Chega de mão no bolso, copo d’água e mariola. 

Respeitem o profissional

Tomei a liberdade de pegar uma foto do Professor Paulo Célio, que ilustra bem o sentido do texto.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

World Games de Cali. Análise das Equipes Masculinas



COLÔMBIA (País Sede)
O país tem investido na modalidade e tem bons valores. Causou estranheza o fato de não ter disputado o Pan-Americano em Mar Del Plata. Certamente, seria uma ótima oportunidade para medir forças e saber o real estágio de sua equipe masculina. Acredito que em casa os anfitriões darão trabalho a todos os competidores

BRASIL (Campeão Mundial)
Temos boas expectativas para essa competição. Pretendemos participar com força máxima. Hoje não teríamos nenhum problema para levarmos o melhor grupo. Também equacionamos o período de treinamento e só nos falta o local com temperatura similar à Cali. 

VENEZUELA (Representante das Américas)
Conseguindo se desvencilhar da comparação com o handebol, onde ainda não tem expressão mundial, a Venezuela poderá surpreender muitos dos candidatos ao título dos World Games. É uma equipe que não deve nada às melhores do mundo. Tem bons jogadores, técnica, tática e, principalmente, entende o jogo.

UCRÂNIA (Vice Campeã Mundial)
Excelente e equipe e jogo consistente de defesa e ataque. Tem como referência os giros de jogadores altos e fortes. Como outras equipes europeias virão com muito ritmo de jogo, após participar do Campeonato Europeu na Dinamarca em julho.

CROÁCIA (Representante da Europa)
Para mim a equipe que melhor entende o Beach Handball na Europa. Ótimos jogadores que praticam o jogo aéreo e de giro da mesma forma. Como Ucrânia, estará embalada pelo Campeonato Europeu e é sempre favorita ao título.

RÚSSIA (Vice Europeu - Vaga da África)
Ótima equipe. Jogadores muito altos e fortes. Sabem jogar e nos venceram nos dois últimos mundiais. Na Turquia prefiro não comentar, mas em Oman foi uma vitória limpa e sem contestação. Sempre candidata ao título.

QATAR  (Representante da Ásia)
Equipe muito forte, técnica e fisicamente falando. Aposta em muitos jogadores de quadra. Em alguns momentos do jogo confundem um pouco os contatos. De toda forma, mais uma equipe que disputa a competição com chances de vencer.

AUSTRÁLIA (Representante da Oceania)
Equipe que no mundial de Oman ficou em último lugar. Entretanto, estão investindo mais na modalidade e tem fase de treinamento marcada para o Brasil.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Análise dos VI Pan-Americano de Beach Handball Mar Del Plata, Argentina

Organização

Foi a primeira competição em que o novo grupo da Pan-americana esteve envolvido. Excelente. Tudo funcionou dentro de um bom padrão. Bom hotel. Boa alimentação. Arena perto do hotel e com boa estrutura. Local de competição em espaço que facilitava a participação de público. Bom público (lógico). Sonorização. Apoio aos atletas. Apenas um registro negativo que se refere a não transmissão dos jogos pela internet. Isso entristeceu os fãs da modalidade em vários países, mas entendemos pelos inúmeros jogos de Handball no mesmo momento em ginásios da cidade.

Arbitragem

Estamos crescendo e espalhando o número de árbitros no continente. Erros sempre acontecerão. Porém, tínhamos duas duplas com experiência em mundiais. Uma dupla indo a internacional e outra indo a continental. Portanto, não temos do que nos queixarmos.
Equipes

México
País muito importante para o continente. Sua participação serviu como aprendizado, já que estão no início de sua trajetória no Beach Handball. Teve dificuldade em compreender a regra sobre contatos e a simplicidade da mecânica de jogo. Jogava como se joga o Handball. Seus atletas e dirigente se mostraram interessados na modalidade e espero que haja investimento para desenvolvimento e outras participações.

Argentina
Entre a equipe que disputou os II Jogos Sul-Americanos de Manta, Equador e essa de Mar Del Plata havia uma enorme diferença. Não sei se a troca de técnico. Não sei se a falta de alguns jogadores. Mas o fato é que a Argentina estava presa e sem praticar um bom Beach Handball. A inclusão de Gull me parece um grande acerto, mas é preciso encontrar uma forma de usar seu potencial e ter alguém que o substitua, de preferência com característica distinta. Essa nova equipe já consegue se controlar nos contatos, porém algo não deu certo. Esperamos que na próxima competição os comandados de Maurício estejam no estágio que merecem e desejam.

Paraguai
A equipe treinou e se preparou com um grupo, mas teve a infelicidade de na última hora perder um de seus principais jogadores. Acredito que esse fato tenha abalado à confiança do grupo. José, técnico da equipe, por conta dessa perda inesperada, provocou modificações defensivas e ofensivas, que aparentemente não surtiram os efeitos desejados. De toda forma, ficou evidente que o Paraguai tem potencial para disputar em alto nível. Como alguns países, sente falta de um lateral canhoto (surdo), que certamente ajudaria no equilíbrio das ações ofensivas. Espero que seus dirigentes continuem a acreditar nesse grupo, procurando o incremento da modalidade, com aumento do número de praticantes.

Uruguai
País que mais treinou para essa competição. Equipe com padrão tático definido e extremamente aguerrida. Tinha um objetivo muito claro nessa competição, que era a classificação para os World Games de Cali, Colômbia. Lutaram e estiveram concentrados em conseguir. Infelizmente não conseguiram ao perderem um jogo sem prognóstico para a Venezuela. Acredito que a ausência, também de última hora, de dois atletas tenha influenciado no resultado.

Venezuela
Aqui está o futuro da modalidade. Atletas altos e fortes. Facilidade de giro e aérea. Saíram com um segundo lugar, mas classificados para os World Games e encantando o público. Num café da manhã, conversando com o seus dirigentes, fui perguntado sobre o que faltava para sua equipe. Opinei e troquei algumas ideias sobre a modalidade e o desenvolvimento da Venezuela. Para mim, isso denota humildade de seus dirigentes e vontade de conhecer. Em breve serão perguntados da mesma forma...

Brasil
Levamos um grupo 50% renovado em relação ao último mundial. Pela primeira vez a equipe jogou sem seu especialista Bruno Carlos. Não levamos os dois goleiros que estiveram em Oman. Depois de sete anos, deixamos de levar Jefte Saraiva. Treinamos apenas nove dias. Tínhamos muitas expectativas em relação aos resultados. A principal era, em função de estarmos classificados, a possibilidade de desequilibrar a competição, com resultados inconstantes e mexendo na classificação dos países. Mas após um início difícil, num jogo com o Uruguai, conseguimos jogar num bom nível e vencer todos os jogos e a competição. Ficou a certeza que se quisermos nos manter no topo não podemos relaxar em competições continentais. Isso é ótimo, mas indica dificuldades futuras.

Geral

Não me sinto o dono da verdade e nem absoluto em nada, mas gostaria de tecer alguns comentários que entendo importantes para o crescimento das equipes e da modalidade no continente:

  • O Beach Handball é lugar de bom ambiente e fair play. Infelizmente, percebo que algumas pessoas não fazem a menor questão de cumprimentar, conversar ou trocar alguma ideia acerca de qualquer coisa;
  • Algumas equipes parecem jogar algo parecido com Handball de várzea, com “toques” constantes, contatos frontais e inúmeras reclamações;
  • Uma competição como a realizada em Mar del Plata, com horários livres, poderia servir de um fórum para conversarmos sobre a modalidade, exemplos de treinamento, trabalho físico, competições e etc...

Nós técnicos e dirigentes do continente precisamos nos mexer e produzir, pois só assim faremos frente aos que se acham donos da modalidade e a tudo conhecer.

Um forte abraço!