segunda-feira, 10 de março de 2008

O Desenvolvimento do Beach Handball Através das Regras do Jogo

“O Beach Handball foi apresentado em 1995, no Congresso da Federação Internacional de Handebol, onde se encontrava o Sr. Manoel Luiz como presidente da Confederação Brasileira de Handebol. Chegando ao Brasil, o professor Manoel, que havia se interessado pela proposta de desporto, sugeriu ao Sr. Carlos Arthur Nuzman a sua inclusão no Festival Olímpico de Verão. Nasceu nesse momento à primeira competição internacional da modalidade, Mundialito, vencido pelo Brasil, com equipe dirigida pelo professor Leoni Nascimento. Nosso país faria mais três competições internacionais antes da primeira competição européia”
Na década de 80 e até o meio dos anos 90, no Rio de Janeiro, desenvolveu-se a cultura da prática do Handebol na Areia. Um jogo de sete contra sete, com a mesma regra da quadra, só que jogado na areia. O jogo era irregular, pois o tamanho da bola, a impossibilidade de driblá-la e as dimensões da quadra, geravam enorme desconforto. O jogo tinha caráter recreativo/competitivo e era um ótimo motivo para reunir amigos. Nesse sentido, vale salientar que vários Estados tinham prática semelhantes, alguns registram atividades anteriores ao Rio de Janeiro.
O ingresso do Beach Handball no Festival Olímpico de Verão causou forte impacto nos praticantes do handebol na areia. A adaptação do jogo de quadra e, ao mesmo tempo, o variado valor dos gols nos impelia a prática do jogo. A proposta veio a calhar, pois encontrou muitos atletas sedentos de um desporto dinâmico e com alto teor competitivo.

Na regra original, havia a possibilidade de gol com valores que variavam de um a três. Isso mesmo, um gol de cabeça valia três. Valiam dois os gols feitos em aérea ou gol simples de goleiro. Na verdade, toda vez que um goleiro fazia gol, era dada uma bonificação de um gol. Exemplo: gol de goleiro em aérea valia três. Dois por ser aérea e mais um pela bonificação. As substituições eram ao longo de toda a lateral. Portanto, o goleiro entrava direto no ataque.
Após dois mundialitos, passamos para competições estaduais e depois nacionais. Aqui cabe um registro interessante: o handebol de areia partiu das seleções brasileiras, para depois ser iniciado nos Estados, através de clubes e associações. No primeiro brasileiro de seleções o Rio de Janeiro sagrou-se campeão masculino. No segundo o Estado do Paraná e no terceiro Santa Catarina. Dessa última competição, foi montada uma seleção que representou o Brasil no primeiro Pan-americano da modalidade. No ano seguinte o segundo Pan-americano. Os dois foram vencidos pelo Brasil. Em 2001 disputamos o World Games do Japão, onde fomos terceiro nos dois naipes.
Ao longo desses anos, algumas regras foram suprimidas ou ganharam novas leituras. O gol de três deixou de existir. O goleiro passou a ter restrições na substituição, sendo à entrada do “goleiro especialista” feita na sua própria área. As exclusões também sofreram alterações, na interpretação de quando o jogador poderia retornar. Porém, estávamos acostumados às regras. Tínhamos inúmeras jogadas e ações que facilitavam alcançar o objetivo do jogo: o gol. Mas o jogo estava amarrado. A modalidade estava marcada. As ações ofensivas estavam minguando diante das ações defensivas. Um atacante com a bola, que não fosse o goleiro especialista, era deixado sem marcação e não restava nada para ele a não ser fazer gol de um ponto. O contato físico estava muito próximo do que acontecia na quadra. O jogo estava deixando de ser interessante.
Em 2000, na cidade de Gaeta Itália, eu e o Prof. Willian Felipp, estivemos presentes ao primeiro Campeonato Europeu da modalidade. Recebemos atenção especial dos organizadores, pois eles tinham interesse que passássemos um pouco da nossa experiência na modalidade. Ajudamos nas discussões do jogo e percebemos que eles fariam propostas de mudança de regras, com a intenção de dinamizar a modalidade.
Em 2002, antes do segundo europeu da modalidade, a Federação Européia de Handebol (EHF), que já demonstrava interesse incomum pela nova modalidade e, naturalmente, por um novo produto, sugere modificações da regra do jogo. Então é lançada pela Federação Internacional de Handebol (IHF) a regra que perdura até o dia de hoje.
A regra foi mudada e, principalmente, foi desenvolvida uma filosofia para o jogo. Ela apontava para a necessidade de se promover o jogo limpo. O contato físico seria minimizado ao máximo. Se fosse necessário, a exclusão de atletas deveria servir como afirmação dessa filosofia. O jogo ganhou em número de gols e vimos um outro desejo dos gestores da modalidade ser realizado: “o espetáculo”. O gol espetacular. A jogada espetacular. Essas ações seriam bonificadas. Ou seja, o gol espetacular passa a valer dois pontos. Um problema se estabeleceu e, de certa forma, gerou dúvida que até hoje se discute. O que é espetacular? Uma cambalhota? Um giro? Um arremesso de uma situação extremamente difícil? Enquanto se discutia as competições eram jogadas. Muitas interpretações e muitas dúvidas também. E ficou estabelecido que o giro completo fosse considerado uma jogada espetacular. Essa tomada de decisão modificou radicalmente o jogo. Agora, aquele atacante com a bola na mão passava a ter a possibilidade de fazer dois pontos. Um gol de goleiro valeria dois pontos e os outros dois atacantes que sobravam, tinham a possibilidade de recebendo a bola em aérea e fazer dois pontos. O jogo ganhou em dinamismo. O caráter de superioridade numérica, que sempre prevaleceu na modalidade, ganhou uma força incrível.
Durante o mundial do Brasil, se especulou muito sobre mudanças nas regras do jogo. Estamos atentos e tentando influenciar positivamente nessas possíveis modificações.
Espero ter ajudado em esclarecimentos sobre a modalidade, e até breve!!!!

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